Cris Gurgel convida Ary Nasi a compartilhar seu olhar sensível, sua paixão pela música e habilidade com as palavras na sua melhor maneira de expressão.
Desfrute dessas múltiplas sensações nessa prazerosa leitura e na playlist do Spotify, selecionada a dedo, com muito carinho, por ele! A Amazônia tem infinitas riquezas além do pirarucu, entre elas, os sons da Amazônia...
Sons da Amazônia
Os sons da Amazônia por Ary Nasi – médico, apaixonado pelo Brasil e, em especial, pela região amazônica.
Com uma canoa a remo, entrando na floresta por um dos inúmeros igarapés, certamente você ouvirá o som amazônico mais impactante - o dos remos na água, do vento nas árvores, dos pássaros... Porém, não é esse som que abordo agora na coluna do blog DG. Hoje, contarei algo sobre o som das músicas amazônicas, que nasceu nas comunidades indígenas, ribeirinhas e também nos centros urbanos.
Produto de influências africanas dos negros escravizados, dos “soldados da borracha” nordestinos e também das ondas curtas dos rádios. A música amazônica, densa como a floresta e rica como a gastronomia local, mais recentemente, também é influenciada pelo forró e swing, que conseguiram adentrar na região. Bastante difundido em áreas colonizadas por nordestinos, em especial, Acre, Roraima e Rondônia, o forró amazônico tem charme e particularidades locais. O Amapá, por sua vez, misturando influências afro temperadas, com excelentes condimentos regionais, produz o que há de melhor na música tucuju, com muito batuque, marabaixo, cacicó e zouk - ritmos das Guianas e do Caribe. As ondas curtas dos rádios trouxeram, de longe para a região, o ritmo musical conhecido como swing. Interagindo com influências locais, transformou-se no famoso calipso que, com seu ritmo quente e letras irreverentes, caracteriza fortemente a música paraense.
Outro estilo musical muito importante no Pará é o carimbó, muito vibrante, usualmente acompanhado por danças especialmente sensuais. O carimbó chegou a ser proibido no final do século XIX; posteriormente, passou a ser permitido apenas no período compreendido entre o dia de São Benedito (26 de dezembro) e o dia de Reis (6 de janeiro). Até hoje, nesse período, ocorrem grandes festas do carimbó paraense. Felizmente, as restrições, dessa vez, não acabaram em pizza, mas sim em festas.
Carimbó
No Amazonas, nasceu a Toada do Boi, difundida mundialmente pelo famoso Festival Folclórico de Parintins, oficialmente reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil. O festival, que começa na última sexta-feira do mês de junho, com duração de três dias, mostra músicas regionais e, sobretudo, a disputa musical, dançante e cenográfica, entre duas agremiações folclóricas: o Boi Garantido (vermelho) e o Boi Caprichoso (azul).
As principais apresentações acontecem no Centro Cultural de Parintins, mais conhecido como Bumbódromo. Milhares de turistas, ao redor de 80 mil, acompanham anualmente as toadas dos bois.
O Festival foi responsável pela divulgação de algumas músicas que ficaram famosas em todo Brasil; dentre elas, destacam-se Tic, Tic, Tac, Vermelho, Saga de um canoeiro, Parintins para o mundo ver, Lamento de raça e Ritmo quente.
Festival Folclórico de Parintins
Há grandes ícones da música popular e instrumental brasileira, provenientes da região amazônica; certamente, merecem destaque João Donato e Sebastião Tapajós. Se você tiver interesse em conhecer um pouco mais sobre a música amazônica, procure por: Nego Nelson, Strobo, Lucas Estrela, Liège, Jaloo, Gina Lobrista, Dona Onete, Félix Robatto, Felipe Cordeiro, Fafá de Belém, Luciano Ribeiro, Banda Carrapicho, Eliana Printes, Chico da Silva, Felicidade Suzy e David Assayag.
O cantor Jaloo
Preparei uma playlist no Spotify especialmente para você entrar no clima amazônico:
Amazônia Musical DG
https://open.spotify.com/playlist/28Lyd1H6KrqyszGCNVUm3P?si=rLGV4QNTTryr8NLWcCrKLg
Músicas emblemáticas compostas ou interpretadas por artistas amazônicos. Se quiser conhecer um olhar cinematográfico sobre a música amazônica, assista ao filme “Amazônia Groove” de Bruno Murtinho.
Outra excelente sugestão é o “Amazon Adventure”, produzido por Yuri Sanada e dirigido por Mike Slee, baseado na longa e fascinante viagem pela floresta amazônica do explorador inglês Henry Bates, no meio do século XIX. Outra boa dica é conhecer as aventuras do veleiro pedalinho na bacia amazônica, disponível no canal hashtagsal, no youtube.
Não poderia deixar de destacar e recomendar o icônico e premiado álbum “Amazonas” do João Donato Trio, lançado nos EUA em 2000.
João Donato Trio e seu álbum Amazonas
Quem já esteve na Amazônia, certamente, não se esquece do som da floresta, do visual deslumbrante e das várias manifestações culturais e gastronômicas do local. Aos que não conhecem, fica aqui registrado o estímulo - conheçam, é fascinante. É daqueles lugares que você volta diferente do que foi; seguramente, voltará mais sensível e dedicado à preservação do meio ambiente e com excelentes lembranças para todos os sentidos. Iniciei esse breve texto com a recordação marcante do som da floresta nos igarapés. Não poderia terminá-lo sem deixar de citar dois outros sons, infelizmente, comuns na Amazônia - o estalo das árvores queimando e o ronco bruto das motosserras. A questão não é política partidária, é lícita e preocupante para todos que se empenham por um mundo melhor - envolva-se com ela!